quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Contos de Franz Kafka


Contos de Kafka
Franz Kafka nasceu em Praga (República Checa) em 1883 e morreu em 1924 em Kierking Klisterneuburg (Áustria). É considerado pela crítica um dos maiores escritores de língua alemã do século XX; escreveu romances e contos.
A colônia penal narra a visita de um explorador a uma colônia penal. O conto gira em torno de um aparelho que serve para matar os condenados. O oficial, que não tem nome como os outros personagens, descreve o aparelho com detalhes chocando tanto o explorador quanto o leitor. O condenado a morte, que foi julgado sem poder se defender, presente no conto desobedeceu a uma ordem do seu superior e agora deverá ser submetido a uma tortura de 12 horas até a sua morte. O conto é o relato da justiça e da punição presente na sociedade, o fato de os personagens não terem nome nos da uma impressão do quão genérico a sociedade é e como esse tipo de situação pode estar presente em qualquer parte do mundo.

Citação:
Nossa sentença não é severa. O comando que o condenando infringiu é escrito pelo rastelo em seu corpo. Este condenado, por exemplo [...] terá escrito em seu corpo: Honra os teus superiores!” [...]. O explorador queria fazer várias perguntas, mas ao ver o homem perguntou apenas: “Ele conhece a sentença?” “Não” disse o oficial e tentou dar prosseguimento à explicação, mas o explorador interrompeu-o: “Ele não conhece a própria sentença?” “Não”, disse mais uma vez o oficial, deteve-se por um instante, como se exigisse do explorador uma fundamentação mais precisa para a pergunta, e então disse: “Seria inútil comunicá-la. A sentença é aplicada ao corpo [. Assim o explorador inclinou-se mais uma vez para a frente e perguntou: “Mas ele sabe ao menos que foi condenado?” “Também não”, disse o oficial e abriu um sorriso ao explorador, como se esperasse dele mais alguns questionamentos estranhos. “Ora”, disse o explorador e passou a mão pela testa, “então este homem também não sabe como sua defesa foi recebida?” “Ele não teve nenhuma oportunidade de apresentar uma defesa” disse o oficial [...]”(p.86-87)

Curiosidades:
  •  Albert Camus, Gabriel García Márquez e Jean-Paul Sartre estão entre os escritores influenciados pela obra de Kafka;
  •   Kafka teve uma relação complicada e turbulenta com o pai, o que gerou uma grande influência sobre sua escrita;
  • A maior parte de sua obra está repleta de temas e arquétipos de alienação e brutalidade física e psicológica, conflito entre pais e filhos, personagens com missões aterrorizantes, labirintos burocráticos e transformações místicas.


Avaliação:

Kafka trabalha com uma moral quase invisível em seus textos, ele nos faz pensar em qual o real sentido daquilo que estamos lendo sem realmente nos dar uma resposta em seu texto. Seus contos são curtos e objetivos, o que faz ser uma leitura rápida e proveitosa.

Morte em Veneza


Morte em Veneza


Esse livro foi publicado pela primeira vez em 1912. Sua autoria é do alemão Thomas Mann (1875-1955). Tendo como pano de fundo a cidade italiana de Veneza, a história se inicia com o protagonista - o escritor Gustav Von Aschenbach - percorrendo as ruas de Munique, ao mesmo tempo em que indaga-se sobre o atual estado de sua carreira artística. Já nos seus 50 anos, vê-se envolto de uma atmosfera "negra", uma crise existencial, que o acomete através de angústias e insatisfação com o compromisso de suas produções. Surge então uma figura misteriosa numa das paisagens da cidade alemã: um homem ruivo, estranhamente caricatural, dotado de um rosto onde destacava-se a saliência de suas gengivas, é visto saindo de uma capela. Após essa repentina aparição, Aschenbach decide viajar, preferencialmente para o sul europeu.

Após uma estadia em Tieste, o escritor ruma para Veneza, onde acontecerá uma série de cabalísticas e decisivas experiências. Solicitando os serviços das míticas gôndolas de Veneza, Aschenbach pede a um dos barqueiros que o leve até o hotel Lido. As pessoas vistas pelo escritor até esse momento da viagem continham em suas expressões o mesmo semblante misterioso do ruivo de Munique. O homem que conduz a gôndola age de forma suspeita e chega a assustar o turista, pois muitas das vezes o deixa falando sozinho; num dos diálogos, ao questionar o pagamento do transporte, recebe como resposta um sugestivo "o senhor pagará".

Antes da estranha viagem, Aschenbach nota alguns grupos que desfilam pelas ruas de Veneza; ele vê um homem velho, que parecia estar maquiado. Supõe que essa era uma tentativa do senhor em parecer mais jovem, pois ele estava rodeado de pessoas mais novas.

Durante o jantar, já hospedado no hotel, Aschenbach se depara com um jovem que lhe desperta bastante atenção. O escritor fica admirado com a beleza do rapaz, que estava acompanhado do que parecia ser a sua família (posteriormente, reconhecidos como sendo de origem polonesa). O menino despontava das companhias, e suas vestes marcavam uma certa independência dele com o rigor das demais. Aschenbach, ao observar, na praia, a família e o jovem certo dia, escuta o que parecia ser o nome "Tadzio", tendo mesmo divagações com a sonoridade da palavra.

Aschenbach estava fascinado pelo jovem, mas sua insatisfação artística ainda persistia, e decide então rumar para outras paisagens; não fosse a notícia de que suas bagagens foram perdidas, o escritos teria partido, o que em uma análise dos seus sentimentos no período em que estava, não era realmente desejado.

O primeiro contato (visual) entre Aschenbach e Tadzio ocorre durante uma das perseguições do escritor ao estimado jovem. O sorriso que Tadzio corresponde a Aschenbach é visto então como justamente o oposto das feições cadavéricas e misteriosas dos outros personagens que deixavam o escritor perplexo. O artista tem a certeza, após ver o sorriso de Tadzio, de ter encontrado o real aspecto da eternidade, do belo, e numa fala inaudível às pessoas circundantes e ao garoto, fonte de sua inspiração, ele balbucia "eu te amo".

O repentino abandono das ruas e saída de pessoas de Veneza preocupam Aschenbach, que fica sabendo então de uma "mal" que está acometendo a atmosfera do lugar. Andando pelas ruas, que pareciam um labirinto, algumas informações que o autor recebe são de que o governo sabe do problema, mas finge não ser nada muito grave. A prova de que algo de inusitado e perigoso ocorre na cidade surge quando Aschenbach, durante uma apresentação de um grupo de artistas, testemunha o comportamento terrífico de um integrante; este começa a rir histericamente, mostrando seus dentes escariados.

Era uma espécie de cólera que estava se alastrando pela cidade, e Aschenbach a contrai quando come um morango contaminado.

O final da narrativa ocorre na praia, quando Aschenbach presencia Tadzio e outro garoto, Jaziu, que parecem brigar. As agressões culminam com Tadzio tendo seu rosto enfiado por Jasiu na areia da praia. Após isso, Tadzio percorre o mar até ultrapassar um banco de areia, onde vira seu rosto e acena para Aschenbach: este morre sentado na beira da praia.

Citação:
Nada é mais estranho, mais melindroso que a relação de pessoas que só se conhecem de vista, - que diariamente, em cada hora mesmo, se encontram, se observam; são obrigadas a manter a aparência de indiferente estranheza, sem cumprimento, sem palavra, pela ética ou capricho pessoal. Entre eles há inquietação e curiosidade sobreexcitada, a histeria de uma insatisfeita e artificialmente oprimida necessidade de conhecimento e intercâmbio, e principalmente também uma espécie de respeitoso interesse. Pois o homem ama e respeita o homem enquanto não consegue julgá-lo; e o anseio é o produto de um conhecimento falho."

Curiosidades:
  •  A mãe de Paul Thomas Mann era brasileira, se chamava Júlia da Silva Bruhns; com 7 anos, ela foi morar na Alemanha;
  • Quando a Alemanha Nazista invadiu a Checoslováquia, em 1939, Thomas Mann, que possuía cidadania do país desde 1936, emigrou para os Estados Unidos, onde futuramente lecionou na Universidade de Princeton;
  • O enredo de Morte em Veneza é permeado por diversos temas: desde o amor platônico de Aschenbach por Tadzio, a obra possui também traços autobiográficos e críticas do autor ao governo alemão.


Comentário:

A narrativa possui momentos de reflexão e apresentações de personagens sugestivos, misteriosos e simbólicos. O fundamental do texto é compreender a busca de Aschenbach pelo conceito de perfeição, do belo, provavelmente a origem de sua angustia inicial e causa da morte. 


Contos Jorge Luis Borges


Contos de Jorge Luis Borges

Jorge Francisco Isidoro Luis Borges Acevedo nasceu em Buenos Aires (Argentina) em 1899 e morreu na Genebra (Suíça) em 1986. Foi um escritor, poeta, tradutor, crítico literário e ensaísta. Entre suas obras mais conhecidas estão os contos A biblioteca de babel e O Aleph.
O Aleph conta a história de Borges, um homem apaixonado por uma mulher chamada Beatriz Viterbo que morreu 1929. Para manter a memória da amada viva, ele visita a casa da mesma no dia 30 de abril – aniversário da mesma. Todavia, durante as visitas, Borges é obrigado a conviver com Carlos Danieri Argentino, também escritor e admirador de Beatriz, além de seu primo. Durante a narrativa o sentimento de Borges por Carlos se intensifica: há inveja, concorrência e admiração. Na última visita a casa de Beatriz, Carlos conta a Borges que querem destruir a casa e que ele havia encontrado o Aleph entre os vãos dos degraus da escada do porão; Borges desce para ver a pequena esfera que mostra tudo – presente, passado, futuro –, todas as maravilhas e lugares do mundo. No fim da visita Carlos pergunta se Borges irá ajuda-lo a preservar a casa e ele responde que não.

Citação:

“Felizmente, nada ocorreu – salvo o rancor inevitável que me inspirou aquele homem que me havia imposto uma delicada missão e depois me esquecia” (pág. 165). – Cena em que Borges espera o telefonema de Carlos.


Curiosidade:

  • É considerado um dos maiores escritores espanhóis, perde apenas para Cervantes;
  • Teve grande aptidão para a literatura desde cedo;
  • Escrever seu primeiro conto, La visera fatal, aos 8 anos de idade. 
Avaliação:
Borges escreve textos em que nos levam tanto para o lado místico da vida e também para o lado mundano. São textos fáceis para a leitura e que valem muito a pena serem lidos. Segundo Calvino, em Seis propostas para o próximo milênio: 

“Cada texto seu contém um modelo do universo ou de um atributo do universo- o infinito, o inumerável, o tempo, eterno ou compreendido simultaneamente ou cíclico; porque são sempre textos contidos em poucas páginas, com exemplar economia de expressão; porque seus contos adotam frequentemente a forma exterior de algum gênero da literatura popular, formas consagradas por um longo uso, que as transforma quase em estruturas míticas” (pág. 133).