
Resumo:
"Memórias do Subsolo" de Fiódor Dostoiévski é marcado pelo personagem apenas
nomeado por “Homem do Subsolo”, onde ele narra seus pensamentos extremamente
atormentados, que vão se dando ao decorrer de que as memórias dele vão sendo
contadas. O Homem do Subsolo é um homem que se apresenta como mau, desagradável
e doente, mas o mais interessante é que apesar disso, é um homem extremamente
consciente, até pontuando que “consciência demais é uma doença”. Sempre
explorando a ideia da dualidade do conceito de “homem decente”, refletindo
muitas vezes se um homem realmente é mais “puro” ou “decente” que o outro por
admitir todos os podres que tem no seu inconsciente ou em seus pensamentos (por
aí que é dada a ideia de “subsolo”). O livro começa com considerações pedantes
e cruéis (afetando o leitor para algumas difíceis reflexões), com ideias de
cunho niilistas, ideias filosóficas brutais que fazem com que seja impossível
fazer a leitura do livro sem ficar atormentado com algumas ideias que temos de
bondade, felicidade e gentileza. Já indo para uma segunda parte, o autor revela
toda a face corrompida e medíocre do ser humano e de como se portamos em
sociedade.
Curiosidade:
Há um capítulo de uma história em quadrinhos
chamada “Astrocity” que conta uma história que se parece muito com a obra de
Dostoiévski, contando a história de um leão que vive uma vida de aparências
sendo um grande ator de Hollywood.
Trecho: "Todo
homem tem algumas lembranças que ele não conta a todo mundo, mas apenas a seus
amigos. Ele tem outras lembranças que ele não revelaria nem mesmo para seus amigos,
mas apenas para ele mesmo, e faz isso em segredo. Mas ainda há outras
lembranças em que o homem tem medo de contar até a ele mesmo, e todo homem
decente tem um considerável numero dessas coisas guardadas bem no fundo. Alguém
até poderia dizer que, quanto mais decente é o homem, maior o número dessas
coisas em sua mente."
Avaliação:
Uma
das obras mais reais e concretas da literatura, um livro que, apesar de sua
densidade em cada linha, nos faz mergulhar nos pensamentos do personagem (nos
nossos). O narrador que, mesmo muito maldoso e rabugento, nos cativa. Talvez
por nossa identificação inconsciente, talvez por uma pena (que também pode ser
por essa identificação “culpada”) , mas é inegável que o personagem traz um ar
positivamente mórbido e com um tom quase que humorístico. Essa questão me
trouxe a cabeça o livro “Laranja Mecânica”, onde o personagem, que apesar de
ser um psicopata que gostava de muitas doses de ultraviolência, fazia com que,
com sua narrativa, o leitor sentisse alguma empatia sobre ele. O que faz a obra de Dostoiévski é que
ela é filosófica e construída a partir de um personagem medíocre e mesquinho
que por muitas vezes faz identificarmos dele características de pensamentos que
todos nós já tivemos. As reflexões que “Memórias do Subsolo” tem, faz nós
vermos o lado putrefato do ser humano, que muitas vezes não enxergamos por trás
de tanta falsidade de um mundo de aparências como temos hoje. O livro começa
nos despindo de toda essa imagem que tentamos criar para os outros, para depois
matar totalmente todo resquício dela.