sábado, 16 de setembro de 2017

Memórias do Subsolo




Resumo:

"Memórias do Subsolo" de Fiódor Dostoiévski é marcado pelo personagem apenas nomeado por “Homem do Subsolo”, onde ele narra seus pensamentos extremamente atormentados, que vão se dando ao decorrer de que as memórias dele vão sendo contadas. O Homem do Subsolo é um homem que se apresenta como mau, desagradável e doente, mas o mais interessante é que apesar disso, é um homem extremamente consciente, até pontuando que “consciência demais é uma doença”. Sempre explorando a ideia da dualidade do conceito de “homem decente”, refletindo muitas vezes se um homem realmente é mais “puro” ou “decente” que o outro por admitir todos os podres que tem no seu inconsciente ou em seus pensamentos (por aí que é dada a ideia de “subsolo”). O livro começa com considerações pedantes e cruéis (afetando o leitor para algumas difíceis reflexões), com ideias de cunho niilistas, ideias filosóficas brutais que fazem com que seja impossível fazer a leitura do livro sem ficar atormentado com algumas ideias que temos de bondade, felicidade e gentileza. Já indo para uma segunda parte, o autor revela toda a face corrompida e medíocre do ser humano e de como se portamos em sociedade.

Curiosidade:

Há um capítulo de uma história em quadrinhos chamada “Astrocity” que conta uma história que se parece muito com a obra de Dostoiévski, contando a história de um leão que vive uma vida de aparências sendo um grande ator de Hollywood.


Trecho: "Todo homem tem algumas lembranças que ele não conta a todo mundo, mas apenas a seus amigos. Ele tem outras lembranças que ele não revelaria nem mesmo para seus amigos, mas apenas para ele mesmo, e faz isso em segredo. Mas ainda há outras lembranças em que o homem tem medo de contar até a ele mesmo, e todo homem decente tem um considerável numero dessas coisas guardadas bem no fundo. Alguém até poderia dizer que, quanto mais decente é o homem, maior o número dessas coisas em sua mente."

Avaliação:
Uma das obras mais reais e concretas da literatura, um livro que, apesar de sua densidade em cada linha, nos faz mergulhar nos pensamentos do personagem (nos nossos). O narrador que, mesmo muito maldoso e rabugento, nos cativa. Talvez por nossa identificação inconsciente, talvez por uma pena (que também pode ser por essa identificação “culpada”) , mas é inegável que o personagem traz um ar positivamente mórbido e com um tom quase que humorístico. Essa questão me trouxe a cabeça o livro “Laranja Mecânica”, onde o personagem, que apesar de ser um psicopata que gostava de muitas doses de ultraviolência, fazia com que, com sua narrativa, o leitor sentisse alguma empatia sobre ele. O que faz a obra de Dostoiévski é que ela é filosófica e construída a partir de um personagem medíocre e mesquinho que por muitas vezes faz identificarmos dele características de pensamentos que todos nós já tivemos. As reflexões que “Memórias do Subsolo” tem, faz nós vermos o lado putrefato do ser humano, que muitas vezes não enxergamos por trás de tanta falsidade de um mundo de aparências como temos hoje. O livro começa nos despindo de toda essa imagem que tentamos criar para os outros, para depois matar totalmente todo resquício dela.

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