Morte em Veneza
Esse livro foi publicado pela primeira vez em 1912. Sua autoria é do alemão Thomas Mann (1875-1955). Tendo como pano de fundo a cidade italiana de Veneza, a história se inicia com o protagonista - o escritor Gustav Von Aschenbach - percorrendo as ruas de Munique, ao mesmo tempo em que indaga-se sobre o atual estado de sua carreira artística. Já nos seus 50 anos, vê-se envolto de uma atmosfera "negra", uma crise existencial, que o acomete através de angústias e insatisfação com o compromisso de suas produções. Surge então uma figura misteriosa numa das paisagens da cidade alemã: um homem ruivo, estranhamente caricatural, dotado de um rosto onde destacava-se a saliência de suas gengivas, é visto saindo de uma capela. Após essa repentina aparição, Aschenbach decide viajar, preferencialmente para o sul europeu.
Após uma estadia em Tieste, o escritor ruma para Veneza, onde acontecerá uma série de cabalísticas e decisivas experiências. Solicitando os serviços das míticas gôndolas de Veneza, Aschenbach pede a um dos barqueiros que o leve até o hotel Lido. As pessoas vistas pelo escritor até esse momento da viagem continham em suas expressões o mesmo semblante misterioso do ruivo de Munique. O homem que conduz a gôndola age de forma suspeita e chega a assustar o turista, pois muitas das vezes o deixa falando sozinho; num dos diálogos, ao questionar o pagamento do transporte, recebe como resposta um sugestivo "o senhor pagará".
Antes da estranha viagem, Aschenbach nota alguns grupos que desfilam pelas ruas de Veneza; ele vê um homem velho, que parecia estar maquiado. Supõe que essa era uma tentativa do senhor em parecer mais jovem, pois ele estava rodeado de pessoas mais novas.
Durante o jantar, já hospedado no hotel, Aschenbach se depara com um jovem que lhe desperta bastante atenção. O escritor fica admirado com a beleza do rapaz, que estava acompanhado do que parecia ser a sua família (posteriormente, reconhecidos como sendo de origem polonesa). O menino despontava das companhias, e suas vestes marcavam uma certa independência dele com o rigor das demais. Aschenbach, ao observar, na praia, a família e o jovem certo dia, escuta o que parecia ser o nome "Tadzio", tendo mesmo divagações com a sonoridade da palavra.
Aschenbach estava fascinado pelo jovem, mas sua insatisfação artística ainda persistia, e decide então rumar para outras paisagens; não fosse a notícia de que suas bagagens foram perdidas, o escritos teria partido, o que em uma análise dos seus sentimentos no período em que estava, não era realmente desejado.
O primeiro contato (visual) entre Aschenbach e Tadzio ocorre durante uma das perseguições do escritor ao estimado jovem. O sorriso que Tadzio corresponde a Aschenbach é visto então como justamente o oposto das feições cadavéricas e misteriosas dos outros personagens que deixavam o escritor perplexo. O artista tem a certeza, após ver o sorriso de Tadzio, de ter encontrado o real aspecto da eternidade, do belo, e numa fala inaudível às pessoas circundantes e ao garoto, fonte de sua inspiração, ele balbucia "eu te amo".
O repentino abandono das ruas e saída de pessoas de Veneza preocupam Aschenbach, que fica sabendo então de uma "mal" que está acometendo a atmosfera do lugar. Andando pelas ruas, que pareciam um labirinto, algumas informações que o autor recebe são de que o governo sabe do problema, mas finge não ser nada muito grave. A prova de que algo de inusitado e perigoso ocorre na cidade surge quando Aschenbach, durante uma apresentação de um grupo de artistas, testemunha o comportamento terrífico de um integrante; este começa a rir histericamente, mostrando seus dentes escariados.
Era uma espécie de cólera que estava se alastrando pela cidade, e Aschenbach a contrai quando come um morango contaminado.
O final da narrativa ocorre na praia, quando Aschenbach presencia Tadzio e outro garoto, Jaziu, que parecem brigar. As agressões culminam com Tadzio tendo seu rosto enfiado por Jasiu na areia da praia. Após isso, Tadzio percorre o mar até ultrapassar um banco de areia, onde vira seu rosto e acena para Aschenbach: este morre sentado na beira da praia.
Citação:
“Nada é mais estranho, mais melindroso que a relação de pessoas que só se conhecem de vista, - que diariamente, em cada hora mesmo, se encontram, se observam; são obrigadas a manter a aparência de indiferente estranheza, sem cumprimento, sem palavra, pela ética ou capricho pessoal. Entre eles há inquietação e curiosidade sobreexcitada, a histeria de uma insatisfeita e artificialmente oprimida necessidade de conhecimento e intercâmbio, e principalmente também uma espécie de respeitoso interesse. Pois o homem ama e respeita o homem enquanto não consegue julgá-lo; e o anseio é o produto de um conhecimento falho."
Curiosidades:
- A mãe de Paul Thomas Mann era brasileira, se chamava Júlia da Silva Bruhns; com 7 anos, ela foi morar na Alemanha;
- Quando a Alemanha Nazista invadiu a Checoslováquia, em 1939, Thomas Mann, que possuía cidadania do país desde 1936, emigrou para os Estados Unidos, onde futuramente lecionou na Universidade de Princeton;
- O enredo de Morte em Veneza é permeado por diversos temas: desde o amor platônico de Aschenbach por Tadzio, a obra possui também traços autobiográficos e críticas do autor ao governo alemão.
Comentário:
A narrativa possui momentos de reflexão e apresentações de personagens sugestivos, misteriosos e simbólicos. O fundamental do texto é compreender a busca de Aschenbach pelo conceito de perfeição, do belo, provavelmente a origem de sua angustia inicial e causa da morte.